Depoimento de um Coração de pai
Era uma manhã de 2006, começo do ano quando recebi o telefonema no trabalho, era minha esposa. Ela havia comprado um teste de gravidez na farmácia, mesmo no dia anterior nós termos conversado que ela iria esperar pra fazer em casa, mas quem segura a ansiedade. Pois bem, veio a notícia, ela estava grávida, meu Deus , pensei, vou ser papai, tudo que havia sonhado desde criança, estava acontecendo, de verdade. Seguimos todas as indicações, fizemos os exames de laboratório, só pra confirmar, e foi mesmo confirmado.
Fizemos o pré-natal recomendado, seguimos todas as indicaçoes, até mesmo parei de fumar, tudo como deve ser feito, até mesmo alguns sustos, como quando minha esposa ligou desesperada, pois segundo a obstetra após uma hora (mais ou menos) de comer ele deveria se movimentar na barriga dela, mas passou 2 horas e ele não mexia, sai correndo peguei ela e fomos ao hospital, o caminho todo eu tentando acalmar ela, mas eu por dentro desesperado, e claro não podia demonstrar o que sentia. Chegamos ao hospital, fomos rapidamente atendidos e assim que o medico colocou o aparelho na barriga dela e ouvimos o bater do coração dele, de imediato ela se acalmou e eu quase cai no chão, minhas pernas tremeram, mas estava tudo bem.
Chegou o dia 26 de Outubro e ele nasceu lindo loirinho e com olhos azuis, pesando 2980, com 49 cm, finalmente – eu sou papai, sabe a mãe como fica com o neném na barriga desde o inicio já se sente mãe, mas já nós papais, só mesmo caímos na real a primeira vez que seguramos nosso neném.
Ele cresceu super bem, com alguns probleminhas de alergia, muitas otites – o que acredito tenha prejudicado muito a fala dele, pois ele não ouvia já que ficava sempre com inflamação no ouvido sempre que levávamos no pediatra era sempre a mesma estória, “ele esta bem só com o ouvido um pouco vermelho”, ouvimos muito isso até que um dia na escola nos chamaram que seu ouvido estava vazando pus, pois é vazando, desde o inicio devíamos ter levado a um especialista, mas como não recebíamos essa indicação do pediatra, coisa que de fato nós deveríamos ter feito, e não esperado algum médico indicar. Levamos ao especialista e prontamente ele disse que tinha que operar fazer uma limpeza e colocar o dreno (timpanotomia). Nem esperamos muitos dias, já foi pra cirurgia, tudo excelente, mas esse tempo, segundo o especialista, acabou atrapalhando, pois o Tiago ouvia os sons como se estivesse com a mão no ouvido, o que mais nos indicou que ele não falava por essa razão.
Até que um dia, eu voltando do trabalho, minha esposa ligou e disse para eu ir correndo a escola onde ele estudava, pois a professora havia comentado que ele tinha um problema, de pronto minha esposa disse que ia quebrar tudo, ela estava muito nervosa, mais uma vez tive que manter a calma pra não aumentar ainda mais sua raiva, ou ansiedade. Chegando à escola fui conversar com a diretora e a professora que disseram terem identificado que o Tiago poderia ter algum problema, pois elas verificaram que nas atividades, principalmente em grupo que o Tiago se afastava, nao sentava com seus coleguinhas para as atividades mais comuns feitas em grupo, que ele sempre se isolava, que sempre estava fixo num ponto da classe enquanto que seus coleguinhas sentados nas cadeirinhas, ou seja, que tudo indicava para algum problema comportamental (como se ele fosse muito tímido e ao mesmo tempo muito ativo – não parava de ir de um lado a outro, de ficar fixo na TV). Minha reação foi imediata, perguntei a diretora (que é dona da escola) se o Tiago tem mesmo algum problema a escola quer ainda ter ele como aluno, minha surpresa naquele instante foi ouvir, “claro que sim”. Qualquer outra escola, pelo que sabemos teria outra atitude.
Foi assim que descobrimos que o Tiago era diferente e claro tínhamos que tomar as medidas necessárias. Nosso primeiro pensamento era levar ele num psicólogo, reação comum em qualquer pessoa, mas por uma dádiva de Deus, minha irmã, uma medica pediatra disse, procure uma Neuropediatra, ela ira indicar o que fazer e como proceder. Pois bem, foi o que fizemos.
Na consulta a doutora, que nunca deu nenhuma resposta ao que poderia ser indicou alguns exames que deveríamos fazer, pra eliminar causas físicas e genéticas que poderiam estar causando esse “problema” comportamental que ele tinha, e claro indicou que procurássemos um especialista, psiquiatra para uma avaliação. Fomos a três diferentes, no primeiro entramos e na porta antes de sentar e falar bom dia, o médico disse – “olha ele é autista”, olhei pra minha esposa, peguei a mão do Tiago e fomos embora, nos sentimos muito mal, pois nem mesmo dissemos bom dia o medico já estava com a avaliação. Levamos para o segundo psiquiatra, esse conversou comigo e com minha esposa 2 minutos, se sentou, no chão com o Tiago, colocou uns brinquedos na frente dele, olhou pra ele e disse- “mamãe e papai ele é autista”. Nessa hora já estávamos sem saber o que pensar nem fazer, nem mesmo estava eu acreditando no que diziam, mas parecia médico de pronto socorro que você nem mesmo entra na sala do medico ele já diz é virose. Pois bem, levamos para um terceiro psiquiatra, essa doutora de imediato, disse como trabalhava que não iria dar diagnóstico nenhum até terminar uma serie de consultas, comigo, depois com minha esposa, depois com nós dois e só então com o Tiago. Após todas as consultas ela nos chamou e confirmou aquilo que já desconfiávamos, ele é autista, síndrome de Asperger associado à hiperatividade.
Meu Deus, apesar de termos a desconfiança por todas as vezes que nos foi dito, vou ser muito sincero, o mundo caiu, não sabia o que fazer, naquele momento perdi o chão, e nunca pensando naquele momento, sempre pensava o que ele iria passar no futuro, as pessoas como o olhariam, como ele iria seguir depois que eu morresse, fiquei sem chão. Chegamos em casa, descansamos, todos dormiam e fui na sacada de casa e sentei e cai em pranto, procurava saber quem era o culpado, porque isso aconteceu, até mesmo pensei que era um castigo de Deus.
No dia seguinte já com a cabeça mais clara as ideias mais claras e me conformando com a situação, conversei com minha esposa que deveríamos já buscar as indicações de Terapias, Fono, e tudo que pudesse ser feito, e claro que deveríamos primeiro nos juntar com nossas famílias para comunicar oficialmente, pois sabíamos que o apoio de todos seria fundamental para a evolução de nosso filho.
Então chamamos meus sogros e contamos, chamamos meus pais e contamos – sabe ficamos muito felizes, pois em ambos os casos o apoio foi incondicional, lembro que meu pai disse que nada mudaria o amor que ele tinha pelo neto, assim como meus sogros disseram em diferentes palavras a mesma coisa.
Iniciamos a busca então por terapia ocupacional e fono para o Tiago, indicado pela psiquiatra dele encontramos uma escola chamada Tiquira, fomos lá conhecemos a terapeuta e já iniciamos a terapia assim como a fono. A evolução do Tiago foi surpreendente no inicio como todo inicio foi mais complicado, os resultados sabíamos que eram demorados que não é do dia pra noite que ele iria apresentar a evolução que esperávamos, mas sabíamos que os passos haviam sido dados e que dia a dia, degrau por degrau Tiago iria evoluir. Não posso deixar de mencionar a escola Abelhinha, escola que foi fundamental na descoberta do quadro do Tiago, das professoras e da diretora da escola que mesmo não sendo uma entidade especializada, sempre se prontificaram a estudar e ajudar dentro das possibilidades e claro dos coleguinhas do Tiago que sempre foram crianças maravilhosas que aprenderam a entender o Tiago na escola e a ajudar sua evolução.
Varias vezes me peguei pensando nos cantos de como seria o futuro dele, como ele seria depois que eu fosse para outro mundo (morresse) quem cuidaria dele, claro que estamos investindo nosso tempo e dinheiro para a evolução dele, mas infelizmente eu não sou eterno, foi então que mais uma vez tive a noticia, vou ser Pai de novo, não posso negar e é a primeira vez que comento, pensei que teria outro filho especial, mas olha quando nasceu a irmã do Tiago, ainda no hospital, a vendo tomar a sua primeira vacina, pensei que venha e será tão amada quanto o irmão, mas sabe Deus sabe o que faz, ela nasceu, mesmo minha esposa sendo desacreditada pelo endocrinologista dela – que já que ela estava em tratamento de tiroide, e o remédio que ela tomava não deixaria ficar grávida, segundo o médico, “é mais fácil você ganhar na loteria que ficar grávida”, mas vou ser sincero, ganhei na loteria, uma menina linda, carinhosa que aprendeu a cuidar do irmão e a amar ele da forma mais pura que eu já vi na vida.
Hoje, quatro anos depois de avaliado como espectro autista (síndrome de aspergir) meu filho estuda em escola especial, sim, pois uma lei que diz que crianças de seis anos devem estar no primeiro ano do fundamental me fez colocá-lo na escola e por coincidência a mesma instituição onde ele fazia terapia e fono virou escola especial em 2012, onde ele continua seu tratamento, com terapia ocupacional, fono e ainda frequenta a escola abelhinha, onde é amado, cuidado e faz as atividades junto com as professoras.
Este é meu relato, relato de um pai orgulhoso, vitorioso e engajado de forma total e incondicional a que meu filho possa crescer, e ser feliz, seja ele autista ou não ele é e sempre será meu filho Tiago.
Os nomes de pais, irmaos(as) , tios(as), primos(as), de familiares não foram colocado neste depoimento, pois este é um resumo de um outro sonho de um pai, que é o livro que estou escrevendo sobre meus filhos.